
Olá, querido! Olá, querida! Espero que esteja tudo bem contigo neste momento. Este texto tinha como primeira intenção marcar os 85 anos do meu super-herói favorito, o Superman. Desde 1938, através das histórias em quadrinhos, cinema, televisão, games e literatura, o personagem criado por Jerry Siegel e Joe Shuster permanece ativo e relevante como se ontem ele tivesse surgido. Suas aventuras seguem sendo contadas mensalmente nas HQs, um novo filme com direção de James Gunn já foi anunciado para 2025, e podemos acompanhar semanalmente Tyler Hoechlin fazer um excelente trabalho na série "Superman & Lois" (HBOMax). Não há do que um fã do azulão reclamar.

Nunca te critiquei, Tyler! Tu manda bem desde "Supergirl"!
Mas acho que o que não vai faltar por aí no dia de hoje são textos, vídeos e publicações listando seus grandes momentos, frases marcantes, histórias relevantes e fatos curiosos sobre sua trajetória. Então são serei eu a pessoa que fará coro à isso. Vou separar este tempo para contar para vocês um pouco da minha relação "pessoal" com Clark Kent, Kal-el, Superman. Sei que pra muitos isso possa não parecer grande coisa, mas pra mim isso faz uma grande diferença, pois é neste marco de seus 85 anos em que muito do que ele me ensinou começou a fazer sentido.
Nosso primeiro encontro
Tudo começou em 1993, quando era exibida na TV Globo o seriado "Lois & Clark: The New Adventures of Superman" (no Brasil, batizado apenas como "As Aventuras do Superman"). Eu tinha apenas 3 anos de idade e muitas das minhas lembranças da época são bastante nebulosas, como se fossem forjadas pela minha mente. Lembro vagamente de assistir muita televisão, e acompanhar os desenhos e seriados que faziam sucesso na época: "Eureka", "Punky Brewster", "Família Dinossauro"... Mas o lance com o Superman era completamente diferente. Lembro de assistir os episódios desta série na época com uma clareza assustadora.
Com quatro temporadas, "Lois & Clark" tinha uma proposta bastante inteligente de abordagem da lore do Superman: focar toda a ação e narrativa na relação profissional e romântica dos jornalistas Clark Kent (Dean Cain) e Lois Lane (Teri Hatcher). Grande parte dos episódios tinha a mesma estrutura, com algum vilão da semana fazendo lá suas capirotices, aí Lois e Clark investigavam o caso para o Planeta Diário e, quando a resolução tornava-se sobre-humana, Superman aparecia e salvava o dia. Clínico.
Este foi o meu primeiro contato com o Superman: uma série de televisão. Até então eu era só um garoto de 3 anos muito inquieto e deslumbrado. Naquele ponto da minha vida eu não fazia a menor ideia de que ainda tinha uma vastidão de outras coisas sobre o personagem que eu ainda viria a descobrir. Não tinha a menor noção dos filmes e das histórias em quadrinhos, e descobrir isso na sequência foi o que estreitou ainda mais minha admiração pelo personagem.
Atualmente acho até engraçado ver tantas produções de cinema, TV e animação usando a música "Holding Out for a Hero" da Bonnye Tyler em suas trilhas sonoras, pois a primeira vez em que eu vi este "artifício" sendo usado foi justamente no episódio piloto de "Lois & Clark", como posso provar no vídeo abaixo.
O desenho animado dos estúdios Ruby-Spears
Infelizmente, aprendi desde cedo a inconstância da televisão. Como não haviam novos episódios para serem exibidos, era comum "Lois & Clark" sair da programação da Globo, o que me deixava bastante decepcionado. Ocupava essa falta assistindo outros grandes hypes da época, como "Cavaleiros do Zodíaco" e "Esquadrão Winspector". O tempo passou e comecei a frequentar uma pré-escola que ocupava aquela parte do dia que eu dedicava à TV, me obrigando a manter este hábito em outros horários menos cobiçados por mim, mas muito cobiçados por outras crianças brasileiras num geral: as manhãs.
Graças a esta minha "mudança de rotina", consegui um segundo contato com o Superman, agora através dos desenhos animados produzidos pelos estúdios Ruby-Spears em 1988. Um fato interessante dessa animação era que suas histórias eram escritas por autores que eu acompanharia mais tarde em um outro momento da minha vida (que vou abordar na sequência). Eram aventuras muito simples e fechadas, com Superman enfrentando alguns de seus vilões mais clássicos de maneira bastante auto contida. Uma outra característica marcante deste desenho eram os finais, com o "Álbum de Família do Superman", contando algum causo da juventude de Clark Kent em Smallville.
Assistir a esta animação serviu para eu matar a saudade deste "amigo" e teve um papel fundamental na minha conexão com ele, pois não havia nada na cultura pop que me causasse mais euforia do que saber que ainda tinha mais histórias para eu acompanhar. Mas o melhor ainda estaria por vir.
Finalmente, as histórias em quadrinhos
Em dado momento da infância de qualquer um com uma família minimamente estruturada, chega o momento da alfabetização. O momento em que as "sopas de letrinhas" deixam de ser apenas isso e passam a fazer sentido. Nessa altura da vida eu seguia feliz e contente acompanhando o meu escoteiro favorito graças ao desenho animado de 1997, da dupla Bruce Timm e Paul Dini. Ambos já haviam adaptado com sucesso o Batman para o universo das animações anos antes, e conseguiram fazer um excelente trabalho com o Superman. Ao contrário dos desenhos anteriores, esta animação era mais pé no chão, tinha continuidade e apresentava o espectador a mais personagens relevantes do universo DC, como o Lobo, The Flash e Lanterna Verde.
Por algum motivo que talvez nem eles saibam explicar direito, meus pais sempre me incentivaram muito na leitura de quadrinhos. Vez ou outra, ao sair com minha mãe no centro de Paranaguá, eu voltava para casa com alguma revista em quadrinhos do Superman. Ao passar alguns dias na casa de meu pai, ele aparecia com álbuns de figurinhas e revistas do Batman. As HQs eram mídias que não me eram simpáticas até aquele momento pelo simples fato de eu não saber ler. Mas quando pude me aprofundar em acompanhar o Superman nas revistas, foi um caminho sem volta. Meu único azar foi ter feito isso nos anos 90, onde ter muito bolso, cinto e vestir uma jaquetinha passava credibilidade aos personagens.
Lembro com exatidão duas das edições que minha mãe comprou para mim por volta de meus 7 a 8 anos nessas andanças pelo centro. Super-Homem #121 (1ª Série, Ed. Abril, Jul/94) e Super-Homem #01 (2ª Série, Ed. Abril, Nov/96). Uma lembrança que tenho bastante marcada é de um dia eu ter passado por uma sebo e ter visto uma edição em formatinho de "A Morte do Super-Homem". Pedi para minha mãe que comprasse a revista na sua próxima ida ao centro. Ao voltar do colégio, lá estava a revista em cima da minha cama, com aquele "S" ensanguentado em laminação especial, só me esperando pra ser lida.

Fonte: Guia dos Quadrinhos
Atualmente, minha coleção de quadrinhos conta com mais de 400 revistas, que se encontram espalhadas em minha casa em Matinhos (trouxe todos os encadernados e capas dura para cá), e minhas edições mensais seguem em Paranaguá, em cada nesca de espaço que minha mãe consegue encontrar em armários e prateleiras da casa dela.
Mas e o cinema? Não conta?
Claro que conta! É sempre bom ver o Superman nas telas do cinema. No meu caso, talvez o impacto nesta mídia tenha sido menor pelo simples fato de não ter sido através dela o meu primeiro contato com o personagem. E até certo ponto da minha juventude, assistir filmes não era lá o meu programa favorito. Passou a ser por culpa, olhe só, do Homem-Aranha do Sam Raimi. Mas isso não me deixa sem histórias para contar.
Primeiramente, Christopher Reeve. A importância deste ator para a construção mitológica do Superman é simplesmente incontestável. O filme de 1978 tem uma importância enorme nesta história toda, pois foi revolucionário sob o ponto de vista técnico, além de apresentar novamente o personagem para uma sedenta geração de fãs em todo o mundo. Infelizmente, meu contato mais contundente com o trabalho de Reeve como Superman se deu tardiamente. Para ser mais específico, no dia de sua morte.

É fato conhecido de muitos mas, em 1995, Reeve sofreu um grave acidente ao cair de um cavalo, que o deixou paralisado do pescoço para baixo. Deste momento em diante, dedicou sua vida aos estudos científicos com células-tronco e no tratamento e eventual cura da tetraplegia que o acometeu. Durante todo este processo, Reeve demonstrou uma resiliência e força de vontade que somente um cara que interpretou o Homem de Aço poderia proporcionar. Esta sua luta se encerrou somente no dia 10 de outubro de 2004.
No dia de sua morte, a Globo resolveu apresentar "Superman II - A Aventura Continua" (1980) no antigo "Inter Cine", como forma de homenageá-lo. Como nunca havia assistido um filme completo do Superman de Reeve, vi esta como a oportunidade perfeita para conhecer seu trabalho mais aclamado. Aproveitei também para gravar o filme em VHS para poder assistir outras vezes. Fiquei encantado em como aquele filme tinha ação, aventura, mas ao mesmo tempo tinha toda uma atmosfera terna. Foi uma experiência única e muito marcante, mesmo tendo sido iniciada pelo segundo filme.
Outro momento de cinema que me marcou bastante foi acompanhar as notícias a respeito da produção de "Superman - O Retorno" (2006), pois foi a primeira vez que fiz isso pela internet. Eram várias e várias horas passadas em lan houses procurando notícias, imagens, dados de bastidores, tudo em um período onde a internet de uso doméstico ainda era um sonho para poucos. No fim das contas, acabei nem vendo o filme no cinema, podendo vê-lo somente após sair em DVD.
Mas um que eu fiz questão de ver em pré-estreia na sala de projeção foi "O Homem de Aço" (2013). Eu já estava acompanhando a produção de forma frenética, pois além de ter adorado os primeiros trailers, tinha gostado da escalação de Henry Cavill (inclusive, saudades cara) e estava empolgado em saber que o responsável pela nova adaptação seria Zack Snyder, que já havia trabalhando de forma exitosa em dois outros projetos oriundos das HQs: 300 (2006) e Watchmen (2009). Eu saí levitando da sala após o filme, dado o êxtase. Sensação igual só fui ter depois ao assistir "Batman vs Superman - A Origem da Justiça" (2016).
Smallville
"Smallville" (2000-2010) é uma droga que durou tempo demais e o Tom Welling NÃO CONTA como Superman. Na real, a série era pra ter sido sobre o Batman, mas não rolou porque a Warner Bros. já tinha arrendado o morcegão pro Christopher Nolan dar aquela brincada dele lá.

E não adianta ficar me olhando com essa cara de filha do padeiro!
Mas o que tanto faz você admirar o Superman?
Eu fui uma criança dos anos 90 e um adolescente nos anos 2000. Durante todo esse tempo, SEMPRE teve alguma coisa relacionada ao Superman sendo produzida de algum jeito. Como um personagem tão antigo consegue ser relevante e imponente até os dias atuais? Talvez a resposta esteja em como nós, os fãs, nos relacionamos com ele.
Para mim, ele sempre foi um amigo. Alguém com quem eu poderia ter uma lição valiosa para enfrentar um momento delicado da vida. Alguém em quem eu pudesse me espelhar quando quisesse me relacionar com as pessoas de forma amigável e respeitosa. Alguém que mostrasse que a esperança é o caminho para enfrentar todo e qualquer tipo de obstáculo na sua vida.
Eu sempre digo para as pessoas que as melhores histórias do Superman não são as que ele enfrenta monstros gigantes, viaja pelo espaço ou enfrenta hordas alienígenas. As melhores histórias dele são as quais ele confronta as coisas mais mundanas, reais e corriqueiras: a guerra, a fome, a intolerância, a falta de humanidade e o desalento. O Superman é aquele tipo de cara que vai ver você na fossa e vai sentar ao seu lado apenas pra te escutar e lembrar você de que você não está sozinho(a). E eu tenho um excelente exemplo disso.
Em uma história recente, Superman encontra uma mulher que está ameaçando se jogar de um prédio. Seu nome é Felicity Rose. Os policiais que acompanham o caso pedem ajuda a ele para tirá-la rapidamente de lá. Superman recusa. Ele diz que vai apenas conversar com ela. Ao voar até o ponto onde ela se encontra, a moça o recebe com muita raiva, esperando que Superman a tire daquela situação à força, pois "ele pode". Mas não é o que acontece.
Sabendo que Superman sempre diz a verdade, Felicity faz com que ele prometa não a impedir caso ela decida tirar a própria vida deliberadamente. Ele promete, mas a acompanha o tempo todo.
Ela afirma ter perdido sua mãe, trabalhava como frentista e que seu trabalho não lhe dava satisfação pessoal. Ela acreditava que em sua vida adulta iria salvar o mundo e tinha muitos planos que não se concretizaram, e a deixaram num estado de extrema frustração, o que ela considera não ser algo justo.
Superman concorda com ela, dizendo que o mundo muitas vezes não é justo, mas que também não é injusto. O mundo apenas é. Que às vezes a gente consegue sim salvar o mundo, mas outras vezes não consegue. E que devemos nos concentrar em salvar apenas uma pessoa pois, às vezes, isso já é o suficiente. Ele tenta continuar a conversa, mas ela pede para pararem. Eles ficam quietos por horas e horas, até o anoitecer.
A jovem se queixa das luzes da polícia irritarem seus olhos. Superman usa a visão de calor para apagar as luminárias. Ela se espanta com a quantidade de pessoas aglomeradas nas ruas a acompanhando e afirma não saber mais o que fazer com a sua vida.
Superman a ouve. Ele diz à Felicity que já teve de lidar com um dilema semelhante com alguém de sua estima. Uma amiga com uma doença incurável que lhe causava grande dor e sofrimento, e que tirou a própria vida quando se deu conta de que nunca mais teria um dia feliz. Ele ressalta não concordar com a decisão dessa amiga mas que, de certa maneira, a entendia.
Superman reitera que manterá sua palavra de não impedi-la, e que ela poderá dar "um passo no ar" caso acreditasse do fundo do seu coração que não há outra solução que não seja a morte. Mas, caso ela acreditasse que existia uma chance, por menor que fosse, de haver ao menos mais um dia feliz em sua vida, pediu para que segurasse sua mão.
Felicity dá um passo a frente, em direção ao abraço do Superman. Ela está salva.

É isso. Que venham mais 85 anos, meu velho amigo! 🐧
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